segunda-feira, 30 de maio de 2011

Planejamento de uma rota


Parapente – Cross Country e Competição
Alexandre Vieira Malcher


Planejamento de uma rota

            Um bom planejamento da rota faz toda a diferença na proposta de se voar cross. A maior dificuldade de quem está começando a voar cross é o apego aos arredores da rampa e ao pouso oficial, conhecer o seu sítio de voo ajuda muito nesse processo. Comece a perceber pousos alternativos próximos que podem ser usados para auxiliar numa tirada, combine com amigos o resgate num desses pousos alternativos, faça evoluções graduais não dê passos maiores que suas pernas, pois você só tem a perder, o conhecimento vem com o tempo e a prática, certamente, seus objetivos serão alcançadas em tempo oportuno e com maturidade suficiente, visando principalmente sua segurança.
            Para se planejar uma rota, devemos conhecer diversos fatores que irão nos auxiliar no processo de tomada de decisão. O primeiro deles é o relevo local, é importante identificarmos a altura média desse relevo, se existem áreas de flat ou se o predomínio é de montanhas. O voo em locais montanhosos é bem mais arriscado devido à proximidade com o solo, efeito do vento nessas estruturas, rochas expostas a grande altura liberando térmicas fortes, formação de Venturi e Cb, áreas de rotor e locais de pouso reduzido. Quando estiver voando nesse tipo de relevo esteja atento para identificar esses perigos, pois dessa forma seus riscos serão minimizados e seu voo vai render muito mais. Em seguida devemos verificar o vento reinante e se a região apresenta mudanças de direção e intensidade do vento diariamente, nessas regiões é um pouco mais complexo fazer vôos de longas distâncias, pois o vento nem sempre estará de cauda. Nesses sítios de voo aproveite para planejar voos de bate e volta e procure voltar, se possível, pelo mesmo local utilizando o traking do GPS, você poderá descobrir térmicas residentes e é um bom exercício, uma vez que, normalmente é do que as competições se utilizam, as triangulaçõe. Perceba o teto do dia, se ele já se apresentar alto desde o início da manhã, com poucos cúmulos é indício de um bom dia de voo, a presença de muitos cúmulos logo no início da manhã é sinal de umidade acima do normal, que somada a atividade térmica, poderá produzir nuvens muito saturadas ao longo dia.  
          Nas suas primeiras tiradas procure seguir rotas que já tenham sido voadas por outros voadores e com bastante área para pouso disponível. Como o auxílio do site www.xcbrasil.org esse trabalho de pesquisa pode ser realizado para a maioria das rampas conhecidas, durante a consulta procure sobrepor vários voos da mesma rota, assim você terá uma boa ideia de direção para o seu voo. Procure sempre voar com um abjetivo a atingir, desta forma estará sempre evoluindo o seu nível técnico, pois para atingir esses objetivos você será obrigado a utilizar todo o seu conhecimento e raciocínio, procure explicações para os fenômenos que encontrar, faça extrapolações e vá verificar na prática para constatar se funciona. O voo de cross é basicamente voar acreditando no que não vemos, então devemos criar modelos em nossas mentes e adaptarmos esses modelos a situação que se apresenta. Um bom exemplo são as térmicas, já temos conhecimento de que as térmicas possuem formato cilíndrico, então para enroscá-las basta voar em círculos, definir o seu centro e enroscar o mais próximo dele, mas se inserimos a componente vento nesse sistema, devemos imaginar que o centro dessa termal estará derivando com o vento e que a reação do nosso parapente para cada volta será a seguinte:
-       Com vento de cauda a velocidade será a soma da velocidade do vento com a velocidade do parapente.
-       Contravento a velocidade será a velocidade do parapente menos a intensidade do vento, nesse caso se continuarmos mantendo uma enroscada circular a cada volta estaríamos nos afastando do centro da termal, uma vez que com o vento de cauda a nossa velocidade de deslocamento é bem superior que a velocidade de deslocamento da termal.
              Assim devemos adaptar o modelo inicial de térmica a nova situação que se apresenta, ou seja, teríamos que passar rapidamente pelo vento de cauda e aumentarmos o tempo no contravento, para continuarmos dentro da termal.
            A previsão meteorológica deve anteceder o planejamento de sua rota, pois é muito importante sabermos o que podemos encontrar pela frente em nossas tiradas. Na última viajem que fizemos para voar em Jaraguá-GO em 2010, levei vinte dias estudando as rotas, acompanhando a previsão meteorológica, lendo relatos e assistindo vídeos sobre a rampa. Muito disso, se deve ao período que tínhamos disponível para a viagem, o mês de setembro, onde a condição em Jaraguá normalmente fica muito forte e turbulenta, com poucos voadores na rampa. Fizemos contato com os voadores locais de Jaraguá, que nos informaram que no mesmo período de nossa viagem, haveria um outro grupo de voadores de Brasília fazendo vôos de cross, mesmo sabendo disso mantivemos nossos planejamentos. Quando chegamos à rampa no primeiro dia, o céu estava tomado de cirrus, reduzindo um pouco as expectativas de bom dia de voo e o corre-corre para decolar não permitiu que obtivéssemos muitas informações dos voadores de Brasília, desta forma, decidimos por seguir o nosso planejamento de voar em direção a Mossâmedes. Decolamos, orientamos o resgate para seguir até a próxima cidade e seguimos no voo, o resultado do dia foi todos pousados juntos com 5 horas de voo e 90 km voados. Nos dias que se seguiram a condição turbulenta se apresentou, com céu sem nuvens, anunciando uma atmosfera com pouca umidade. Ao final ultrapassamos 130 km de voo e voltamos para casa com muitas experiências vividas e um respeito enorme a natureza.
        Planeje sempre o seu voo, o planejamento aumenta sensivelmente o seu nível de segurança e está intimamente ligado ao seu amadurecimento no esporte.                  




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