sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Reconhecendo as Inversões térmicas e Cisalhamentos

   Um bom voo de cross country ou uma competição necessitam de muitos conhecimentos e experiências, dentre eles podemos citar o conceito de inversões térmicas e cisalhamento. Esses dois fenômenos são totalmente distintos, entretanto influenciam sobre maneira o meio em que estamos inseridos.
   Em muitos de nossos voo nos deparamos com as inversões térmicas, que são definidas como regiões onde o gradiente térmico (gradiente vertical da temperatura do ar) decresce com a altura, numa razão inferior a 10 graus por km (gradiente adiabático). Esse fenômeno nas grandes cidades limita em uma certa altitude grande quantidade de poluentes, pois o processo convectivo normal é alterado pela inversão do gradiente de temperatura, que nas condições normais é de -1ºC/100m.

O gráfico a seguir ajuda a visualizarmos esse processo:


  Uma das consequências da inversão térmica em nosso voo é a gradual perda de ascendência, ou seja, subimos lentamente ou paramos de subir. Em alguns casos conseguimos romper essa faixa de altura e continuar a subir normalmente, entretanto temos que avaliar a que faixa de altura essa inversão encontra-se e o potencial térmico do dia, pois para romper a inversão muitas vezes levamos tempo que poderá ser convertido em distância ao final do voo. Com a experiência torna-se mais fácil identificar a altura de uma inversão térmica, mas para chegar lá, você deverá fazer alguns exercícios de avaliação da condição, pois isso será um grande diferencial em seus voos.
   Muitos pilotos dominam essa teoria, mas como aplicá-la ou que benefícios terá em troca dessa informação? Vamos visualizar um período térmico de 3 horas, onde a média das térmicas é de 3 m/s e todos os gatilhos e geradores estejam funcionando muito bem, ou seja, as térmicas estão consistentes e próximas umas das outras, contudo ao atingir 1000 metros de altura você percebe que começa a subir a 1 m/s, com 1100 metros de altura subindo a 0.3 m/s, olhando ao redor você percebe cumulus formados 500 metros acima, alguns pássaros girando e subindo bem acima de você. Nesse momento pode constatar uma inversão iniciada a 1000 metros, desta forma considere manter o seu voo até 1000 metros de altura durante esse período do dia, enrosque as térmicas até essa altura e ao perceber que o dia enfraqueceu refaça o seu planejamento de voo.
   A inversão térmica ao contrário do cisalhamento não causa turbulência, muitos pilotos confundem esses dois fenômenos e essa característica básica deverá ser levada em conta numa avaliação.


   O Cisalhamento é caracterizado pela mudança da direção ou/e intensidade do vento em determinada altura, normalmente estará associado a turbulência e mudança de deriva da térmica, todavia isso não é uma máxima, pois quando a termal é forte e o cisalhamento é fraco a térmica pode continuar a subir na vertical. Nessa situação continue subindo e procure manter o seu voo acima da altura do cisalhamento.
   Devemos estar bem atentos a dias turbulêntos com cisalhamento forte a baixa altura, essa é uma combinação bem desagradável para o voo, considere abortar o voo em dias assim ou eleve, sobre maneira, sua consciência situacional. 


   Na foto que segue são bem nítidos os cisalhamentos e assim concluímos que pode haver mais de uma camada de cisalhamento no mesmo dia em alturas distintas.




   Um outro exemplo bem interessante é o vale da rampa de Ubá em Castelo-ES. Quando o vento predominante na região é sul, teoricamente deveríamos ter vento de cauda na rampa, mas devido a imponente cordilheira que cerca todo o vale e a atividade térmica presente temos vento norte na rampa por quase todo o dia. Essa é uma situação que já decolamos sabendo que teremos um cisalhamento pela frente e será tão mais turbulento quanto a intensidade do vento e a força das térmicas. No desenho procuro exemplificar essa situação.

   


Alexandre Malcher
Bons Voos !!!!




quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Preparando a sua selete







     A escolha de uma boa selete é tão importante quanto a escolha de um bom parapente. Atualmente existem uma infinidade de seletes disponíveis no mercado mas, a sua escolha deve estar pautada na segurança e no objetivo de seus voos.
      As seletes normalmente são construídas de cordura, nylon de alta tenacidade,  acabamento em neoprene, protetor dorsal  projetado com espuma de alta densidade, fitas com desengate rápido e compartimento para o paraquedas reserva. No último processo de certificação de seletes, o Paraglider Academy revisou a parte estrutural, operacional e de proteção, garantindo maior segurança aos pilotos e obrigando as fábricas melhorarem a qualidade de seus equipamentos. Ao comprar uma selete verifique a certificação EN / LTF e o ano em que ela ocorreu.
      Um ponto crítico que deve ser verificado em seletes é o compartimento do reserva, o reserva deve caber em seu compartimento, estar livre de pressões, o seu peso sobre a selete não deve influenciar no compartimento e deve ser de fácil acesso para as mãos.
     Dentre os projetos existentes, os mais usuais são os equipamentos que acomodam o piloto sentado, ou ligeiramente inclinado para trás com as pernas esticadas (seletes carenadas). Voar sentado é sem dúvida a forma mais segura, no caso de um contato inesperado com o solo, uma selete de posição sentada permitirá ao piloto tocar primeiramente com as pernas, além de apresentar-se menos suscetível a twists. As seletes carenadas foram projetas visando um maior conforto e um maior desempenho aerodinâmico, desta forma estão mais expostas as reações do velame, exigindo do piloto uma pilotagem mais ativa.
     A regulagem da selete é de vital importância no alinhamento do conjunto parapente-selete-piloto. Tenha muita atenção nesse processo para obter um bom conjunto, seletes mau reguladas em voos de longa duração provocam dores e desconforto, afetando diretamente o rendimento dos seus voos. As seletes são produzidas em tamanhos diferenciados S( pequeno), M(médio), L(grande) e XL(muito grande), isso significa que para chegar nesses valores foram calculados altura e pesos médios dentro desses tamanhos, no qual é possível realizar ajustes satisfatários, ou seja, um indivíduo de 1,82 m, com 82 Kg normalmente possui uma selete de tamanho L, mas se por algum motivo ele adquire uma selete M, possivelmente o comprimento das fitas de ajustes não serão suficientes para um bom ajuste, bem como o ventral pode ficar muito acima, fazendo com que a selete fique apertada, o contrário também é verdadeiro. Na maioria das vezes as fábricas disponibilizam tabelas, onde o piloto entra com o seu peso e altura para obter o tamanho ideal de sua selete.
      Regule a sua selete pendurando-a em algum local simétrico com cordas, como um balanço, solte todas as fitas e coloque na regulagem máxima, entre na selete, o tirante ventral deverá ser fechado primeiro e regulado de acordo com a medida especificada pelo fabricante, muitas seletes são acompanhadas por uma régua que auxilia nessa marcação, ajuste a fivela do CG(centro de gravidade), da lombar e dos ombros os dois lados simultaneamente, de modo a manter a simetria do equipamento. Por fim, regule o tamanho do seu acelerador que, em full speed deverá estar no máximo passeio disponível “colando as roldanas” e suas pernas completamente esticadas no segundo estágio, se sua selete possui carenagem regule após o acelerador.
     Um caso muito comum de falta de ajuste são as dores nas costas, verifique a regulagem do encosto, mas ao fazer isso o compartimento interno vai se reduzir, neste momento regule a lombar e o CG para obter uma boa regulagem. As respostas não são imediatas, são necessários alguns voos direcionados a esse objetivo, em média 3 a 5 voos, para se obter um bom ajuste.
    Algumas definições não podem ser esquecidas, CG muito baixo reflete em melhor transmissão das reações da vela para o piloto, entretanto exige uma pilotagem mais ativa. A regulagem ventral influencia diretamente nas curvas e manobrabilidade do parapente, nessa regulagem 1cm fará muita diferença na pilotagem e performance do seu velame.
   Ao optar por uma selete carenada utilizada em competições, você sabidamente estará abrindo mão de parte de sua segurança, uma vez que voará numa posição mais exposta, com as suas pernas presas dentro do casulo, de modo a fazer um perfil aerodinâmico que lhe acrescentará alguns poucos quilômetros numa corrida final para o goal e estará muito mais suscetível as reações da vela. Seus voos são destinados a esse objetivo? Sua selete é homologada? Mesmo que seja, quando e quem certificou? Os critérios para a homologação evoluem em direção a segurança, ou seja, equipamentos novos são mais seguros. Felizmente as estatísticas de incidentes de voo com seletes são muito pequenas, desta forma abrimos mão dessas preocupações e acabamos substituindo o nosso equipamento meramente por questões estéticas.

Alexandre Malcher