terça-feira, 26 de junho de 2012

Comportamento das Térmicas


Comportamento das térmicas



         Para entender o comportamento das térmicas não basta só entender o seu princípio de funcionamento, é necessário integrar esse conhecimento com a atmosfera em que se deseja voar. Compreender as diferenças entre voar com vento forte, vento fraco, em regiões planas (flats), regiões montanhosas, voo com formação de cumulos ou voo no completo azul, é o diferencial do grande piloto e o desejo de muitos, para isso a ferramenta mais importante é o conhecimento sobre o comportamento das térmicas.
       Devido a sua natureza turbulenta e variável, as térmicas são o grande desafio nos voos de distância. Vou abordar os casos mais comuns em que as ascendentes térmicas se organizam, procurando exemplificar facilitando o entendimento.
       Nos dias clássicos de voo, onde o céu fica tomado de cumulos bem organizados é fácil deduzirmos gatilhos, fontes térmicas e assim encontrarmos as numerosas térmicas que estarão a nossa disposição. Em um sítio de voo temos as ferramentas para deduzirmos tais fenômenos, mas já perceberam que isso também ocorre nos oceanos e em desertos, onde haveriam gatilhos em tais locais, regiões planas e uniformes apresentando formação de nuvens? Estudiosos investigaram esses casos e chegaram a conclusão que uma região plana ao ser aquecida pelo sol, libera calor para atmosfera, semelhante a uma panela ao fogo com água fervendo. Os estudos apontaram um outro fator muito interessante, nessas regiões as térmicas desprendidas se organizavam sistematicamente como hexágonos, polígono de seis lados iguais, com cerca de 6 Km cada lado, logicamente apresentando variações de acordo com a intensidade do vento e a viscosidade do ar. A essa teoria foi atribuído o nome de Teoria do Hexágono.
      Essa teoria é muito difundida e explorada entre os pilotos de planadores e asa delta, muito pouco divulgada entre pilotos de parapente, todavia se usada corretamente apresenta excelentes resultados.
       A teoria do hexágono será o meu primeiro exemplo do comportamento das térmicas. Ela deverá ser aplicada em regiões planas com pouco contraste de solo, inicialmente procure usar a teoria em dias de pouco vento, pois com a presença de vento a teoria diz que os lados alinhados ao vento irão aumentar o seu comprimento formando os Cloud streets, os vértices identificam a posição dos cumulos e o centro os buracos azuis (descendentes), quando voando nessas regiões não se confunda achando que voar no azul é melhor pois o sol atinge diretamente o solo, lembre-se que uma térmica ao realizar o seu trajeto ascendente, a massa de ar circundante será descendente, nesse caso os buracos azuis. Procure cruzar os buracos azuis da forma mais rápida possível, tentando alcançar outro lado do hexágono, caso seja possível contorne-os. 

          
       Como regra geral os raios solares aquecem a terra e essa aquece o ar ao seu redor, cada corpo possui uma capacidade específica de reter calor, o ar circundante acaba por aquecer-se mais rapidamente ou vagarosamente, dependendo desse calor específico. Sabemos que o ar quente é mais leve que o ar frio e que o ar úmido é até 1.9% mais leve que o ar seco.  Assim quando uma massa de ar fica mais leve que outra, acaba por se desprender causando turbulência, pois o ar mais pesado passa a ocupar o lugar da massa de ar que subiu. Quando sobe, a térmica vai se expandindo e continuará a subir enquanto a sua densidade for menor que a densidade do ar em volta, sua razão de ascensão será maior quanto mais leve ela for.  Esse processo de formação de térmica é o mais elementar, conhecido como Formação de Bolhas. Numa situação ideal, em que o sol irradie diretamente uma região propícia a formação de termais, seriam necessários de 20 a 25 minutos para que fossem geradas as primeiras térmicas potenciais do dia. Algo próximo a esse exemplo podemos encontrar em áreas de altíssimo potencial térmico como em alguns desertos, em Quixadá, Aar (África do Sul) e outros.
      Ao explorar as térmicas em forma de bolhas temos que ter especial atenção, pois o aquecimento do ar por si só, não garante a formação de uma térmica, é necessário um gatilho. Nesse momento é que surge o “pulo do gato”. Quando voando com pouco vento, dificilmente o vento agirá como gatilho e desta forma a bolha vai sendo arrastada paralelamente ao solo até que encontre um gatilho, na maioria das vezes longe da área onde ocorreu o aquecimento. Assim quando voando  térmicas em forma de bolhas com pouco vento, esteja mais atento aos gatilhos em detrimento aos locais de aquecimento. Quando houver vento, na maior parte das vezes o próprio age como gatilho liberando as térmicas próximo a área onde ocorreu o aquecimento.
      Em regiões de grandes contrastes, muitas vezes o gatilho não se faz necessário devido as diferenças de temperaturas, nesses casos as térmicas são disparadas do mesmo local onde ocorreu o aquecimento e se o fluxo de térmicas for contínuo teremos as Térmicas em Forma de Colunas, que podem atingir a base de uma nuvem, sempre conectadas ao solo, esse tipo de térmica é mais resistente a deriva do vento, uma vez que estão conectadas ao solo.
     Uma térmica ao ser liberada poderá causar reações em sua área adjacente e por consequência liberar outros termais menores, chamados de Térmicas com Múltiplos Centros ou Fragmentos de Térmicas, nesses casos os termais menores tendem a derivar com o vento na direção do maior termal, reunindo-se todos os fragmentos junto a térmica principal. As térmicas com múltiplos centros apresentam duas fases distintas, a primeira fase é a fase da baixa altura, onde os núcleos estão derivando em direção a térmica principal e a fase da média altura onde todos os núcleos se encontram e ascendem com boa taxa de subida. Aproveitar-se dessa situação, principalmente durante a primeira fase, exige do piloto boa técnica de enroscada, pois estará dentro de um pequeno termal, com deriva significativa e a baixa altura. 
      As térmicas podem apresentar-se em vários formatos, elipse, ondas, bolhas, colunas , múltiplos centro e outros, toda essa teoria irá nos auxiliar a formar um padrão mental enquanto enroscamos uma térmica, evite ao máximo acomodar-se com a sua taxa de subida atual, mantenha a busca constante pelo miolo da termal. As térmicas possuem diferentes diâmetros, entretanto nosso velame aproveita com maior rendimento térmicas com diâmetro superior a 30 metros, que a uma velocidade de 36 km/h = 10 m/s , levaríamos 3 segundos para cruzá-las. Os números não são uma regra, são apenas parâmetros para facilitar o entendimento.                 
    Acordar pela manhã num fim de semana ensolarado e ver o céu tomado de cumulos bem formados a grande altura, é o retrato da mais pura felicidade para todos os praticantes do voo livre. Nem sempre essa será a nossa realidade, muitos dias de sol se passam sem a formação de uma só nuvem e muitos pilotos tem receio de fazer voos de distância sem a presença de nuvens. A formação de nuvem convectiva está associada a temperatura do ponto de orvalho, temperatura na qual o ar aquecido se condensa, se a temperatura do ar estiver muito distante da temperatura do ponto de orvalho, esse será um dia propício a não formação de nuvens, contudo ainda existirão as térmicas e essas ainda funcionarão sobre o mesmo princípio. Em dias sem nuvens devemos direcionar a nossa rota, de modo a passar sobre regiões com terrenos mais propícios a formação de térmicas e gatilhos, ou seja, nossa navegação será feita com referência no solo. Exercite bem esse tipo de voo, é o voo onde acumulamos mais conhecimento, pois é necessário acreditar naquilo em que não estamos  vendo.
        
Bons Voos a todos !!!!         

Alexandre Malcher




quinta-feira, 31 de maio de 2012

Revista Voo Livre



      Foi lançada a primeira edição da revista Voo Livre, voltada específicamente para o esporte e preenchendo uma das lacunas do seguimento, rumo ao desenvolvimento e profissionalização do  voo livre.
     Desejo a toda equipe da Revista Voo Livre muito sucesso e realizações nesse projeto!
   Quem desejar adquirir um exemplar pode encontrar as informações no endereço www.revistavoolivre.blogspot.com

Grande Abraço!
Alexandre Malcher
 

sábado, 12 de maio de 2012

Lift térmico a baixa altura


                                                              
                        Lift térmico a baixa altura



            O voo a baixa altura é uma realidade no cross country, desde que tenhamos um pouso disponível. É uma situação desconfortável, entretanto com o devido treinamento, podemos tirar o melhor dela.     
            Muitos pilotos em voo a 300 metros de altura acham que estão fadados ao pouso, nesse momento a força do pensamento atua como uma bigorna e ele provavelmente irá pousar, pois não estará mais atento ao voo e sim fixado no pouso.
            Quando estamos altos em voo é difícil identificar pequenos relevos, entretanto no voo a baixa altura eles são muitas vezes os salvadores do voo, é lógico que nada substitui  avistarmos logo a baixo um par de urubus rodando e subindo a 10 metros de altura.
            A grande questão é como podemos aproveitar esses pequenos relevos e quais as vantagens eles podem nos oferecer nessas situações.
            A busca de um termal, caso não exista um indicador como pássaros, nuvens e outros,  é  um processo de mapeamento da micro região, quanto mais alto estiver, maior será a área coberta. Esse processo de mapeamento deverá seguir uma ordem de grandeza, do terreno mais propício a formação de térmicas ao menos propício. Numa situação em que esteja perdendo altitude e necessite mapear uma área em busca de um novo termal para continuar o voo, procure voar sobre regiões mais propícias a formação de térmicas e nessas regiões procure fazê-lo sobre os pequenos relevos, utilizando as faces mais aproadas ao vento reinante, aproveitando os chamados lifts térmicos. Desta forma, aumentará sensivelmente as suas chances de encontrar um termal, caso os   relevos associados formem uma pequena cadeia de morrotes vai seguindo-os e ao chegar ao final não tendo encontrado algum termal,  considere retornar. Esses relevos próximos a depressões funcionam como um “caldeirão”, que com a ação do vento, todo o calor é deslocado para a borda e dai para o meio externo, posicionar-se sob esses relevos é como estar nas bordas desse caldeirão.

            Nessa imagem percebam que os parapentes deslocam-se em direção as pequenas montanhas, percebam que o vento está “soprando” da cidade (área térmica) para a cordilheira, como estão com boa altura, terão a possibilidade de varrer uma área bem maior, a linha amarela mostra o trajeto de um parapente que percorreu boa parte da cordilheira e não encontrando nada retornou ainda escorado pela montanha para a direção da cidade, onde finalmente identificou um bom termal.
            Um outro fator de grande importância a ser considerado nessa posição são os ventos orográficos, que dependendo de sua intensidade aumentarão sensivelmente a taxa de planeio, reduzindo o afundamento do nosso velame, dando a oportunidade de segurarmos o voo até um próximo ciclo térmico.
            Durante a sua fase inicial de formação as térmicas ficam aderidas ao solo, entretanto possuem formato convexo e seu raio proporcional ao tamanho do termal, muitas vezes encontramos essas bolhas em formação quando voando a baixa altura. Nesse processo de formação a bolha de ar aquecida, vai lentamente descolando do solo até estar totalmente livre da sua influência, quando inicia efetivamente a sua trajetória ascendente, subindo inicialmente com grande potência, estabilizando e perdendo parte de sua ascendência com o aumento da altura. Imagine o piloto (A) a  200 m de altura, com uma razão de descida padrão para o seu velame -1.0 m/s, atinge 50 metros de altura com essa mesma razão, aos 20 metros de altura começa a perceber que o seu variômetro passa a indicar  - 0.1 m/s, nessa mesma hora o piloto (A) realiza um giro bem estabilizado, atuando o mínimo possível nos freios, procurando manter-se nessa área. Como a razão é de afundamento ele desce até 15 m, onde a razão estabiliza e torna-se ascendente + 0.2m/s, o piloto mantém-se  enroscando e começa subir, ao atingir 20 m novamente o quadro inverte-se, será uma questão de paciência até que a bolha descole do solo e inicie o seu trajeto ascendente. Nessas situações devemos estar bem concentrados, pois a essa altitude abandonar uma térmica, por menor que ela seja, poderá significar um pouso prematuro. Utilizei esses valores somente para ilustrar o exemplo.                   

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O caminho para o PWC

Paraglider World Cup




    Competir um PWC é estar na elite do voo livre mundial, um desejo de muitos !
    O Paragliding World Cup (PWC) é o maior evento de parapente do mundo, uma competição de nível internacional, onde os melhores pilotos do mundo lutam pelo título mundial, é também onde as fábricas apresentam os seus mais novos projetos. Como a maioria das competições mundiais o PWC não é um evento aberto a todos, é necessário estar classificado para participar das etapas.
    A competição de parapente no Brasil ainda está em processo de desenvolvimento, poucos são os atletas que sobrevivem do esporte e podem dedicar-se a ele integralmente, desenvolvendo e elevando o nível nacional, junto a isso existe uma escessez de publicações relacionadas a esse tema em lingua portuguesa. Entretanto com o esforço e talento de alguns, que ao logo do tempo deram os primeiros passos na direção correta, somado ao apoio da Sol Paragliders empresa que mais tem investido no seguimento no âmbito nacional, o Brasil pela classificação do PWC é nível 4, onde o nível 1 é o melhor e o 7 é o pior. Esse nível é calculado segundo uma fórmula matemática que leva em consideração o nível dos pilotos brasileiros, a dificuldade/competitividade dos campeonatos nacionais e alguns outros fatores.
    A classificação é importante pois quanto melhor classificado, os pilotos brasileiros terão acesso ao PWC através do Campeonato Nacional, sem a necessidade de competir no exterior para ter uma vaga.  Outro acesso ao PWC pode ser feito através do Pre PWC, são eventos abertos onde o piloto que atingir uma boa colocação poderá ter uma vaga em uma das etapas do PWC. Uma excelente oportunidade estará ocorrendo esse ano no Pre PWC Brasil Baixo Guandu 2012, ou seja, um evento de Pre PWC aqui no Brasil dando a possibilidade aos pilotos de acessarem o PWC sem a necessidade de sair do país. 
    O cenário de falta de patrocínio e investimento na modalidade não é uma realidade só brasileira, a própria comissão organizadora do PWC revisou o sistema da competição, devido ao excesso de reclamações quanto aos custos decorrentes da participação de todas as etapas, que em outrora eram obrigatórias e hoje é necessário apenas classificar-se para a super final, em uma das etapas. Excelente opção, pois além de reduzir os custos individuais dos pilotos, abriu as portas para o desenvolvimento de novos pilotos e o surgimento de novos talentos.
    Para chegar ao PWC o piloto brasileiro deve primeiro competir um dos campeonatos de acesso, são eles campeonatos  PWCA Classe 1 ou Pre PWC, a lista desses campeonatos podemos encontrar no próprio site do PWC  http://www.paraglidingworldcup.org/ na seção world cup tour, ao final da competição receberá duas letras que serão correspondentes a sua colocação desse ranking. Ao fazer o cadastro para as provas do PWC será solicitado esse código alfabético de duas letras, que vão de A a X  onde a primeira é a mais importante e a segunda é fator de desempate. As inscrições serão organizadas segundo esse código e liberadas paulatinamente para que os pilotos efetuem o pagamento da taxa de inscrição, os campeões mundiais e os que já foram tem vaga garantida, a comissão organizadora da etapa pode distribuir algumas vagas para pilotos locais a seu critério, são conhecidos como wild cards. "No final/início de cada ano cada piloto atualiza seu cadastro no site do PWC e recebe as letras que valem pra todo ano, ou seja, pra efeito prático, os resultados desse ano valerão pra próxima temporada!" (colaboração Clayton Alvarenga).      
    Aos pilotos iniciantes recomendo as competições locais, circuitos estaduais e abertos, só assim irão evoluir e solidificar o conhecimento necessário para o voo de competição, que possui características bem diferenciadas do voo de cross country, o tempo e a experiência falam bem alto nesse esporte. Vale lembrar que o ser humano é movido a sonhos e caso esse seja um dos seus, dedique-se, prepare-se, tenha humildade e paciência que o grande dia irá chegar.

Grande abraço!
Alexandre Malcher 


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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Voando com o Vento

                                                           
                            VENTO
   A pressão atmosférica e as variações de temperatura causam dois tipos de movimento no ar: correntes verticais (ascendente e descendente) e fluxo horizontal, este conhecido por "vento". Ventos transportam umidade e, consequentemente, contribuem para o desenvolvimento de muitos fenômenos atmosféricos.
   Muitos fatores influenciam a direção e a intensidade do vento, desta forma estude a micrometeorologia da região que deseja voar, verifique os ventos predominantes e como se comportam.
   Voar com vento forte é uma situação bem desconfortável  que demanda bastante conhecimento e cuidado do piloto, pergunte-se se a condição que se apresenta está dentro dos padrões de segurança e se realmente é necessário e seguro realizar o vôo.
   O vento altera de forma significativa a organização e  a deriva das térmicas, quanto maior a intensidade do vento maior será o deslocamento horizontal das térmicas (fig 1). Isso exige do piloto um novo padrão de enroscada que lhe permita manter-se dentro da térmica. Nessa situação procure ficar o menor tempo possível com o vento de cauda, faça curvas de forma mais rápida para evitar ultrapassar a térmica, a tendência natural nesse tipo de situação é ultrapassá-la, ou seja, deixá-la para trás. Quando estiver no contravento tenha paciência e aguarde até a sua vela reduzir a taxa de subida ou o vário indicar que já passou pelo centro do termal, nesse momento se ao fazer a curva para o centro da térmica, perceber que está novamente subindo na taxa máxima a curva deverá ser feita de forma lenta e gradual, até atingir o vento de cauda e o ciclo estará completo (fig 2).

Fig 1.




   Tenha em mente que quanto maior a potência da térmica menos suscetível ao vento ela será, ou seja, terá uma deriva menor. Passei por determinadas situações em que mesmo com vento forte a térmica derivava muito pouco, isso pode ocorrer até a base da nuvem ou até determinada altura onde a térmica tenha perdido parte de sua potência e a partir dai é arrastada pelo vento. No segundo exemplo o piloto deverá estar bem concentrado e com toda a térmica bem definida mentalmente, desta forma terá condições de reagir a esse fenômeno.
   Os ventos são formados por uma combinação de vários fatores e quanto mais compreendermos sobre a sua formação mais conscientes da condição estaremos, desta forma listei alguns ventos  que são apresentados a seguir.   

Ventos alísios

   Na configuração global da circulação atmosférica, a zona equatorial é uma região de convergência dos ventos de nordeste, do hemisfério norte, e de sudeste, do hemisfério sul. São ventos de natureza fraca, porém conduzem grande quantidade de umidade do oceano para o continente, ao longo da circunferência equatorial. Conseqüentemente, grande quantidade de precipitação ocorrem nessas áreas, durante os meses mais quentes do ano.
   O grande cinturão equatorial de nuvens que envolve a Amazônia, conhecido por "Zona de Convergência Intertropical ", é, como se sabe, resultante da ação dos ventos alísios.

Brisas do mar e da terra

   Freqüentemente se observam, em dias quentes, os ventos que sopram , cruzando a linha do litoral. Durante o dia, a partir das 10:00 horas, aproximadamente, o vento sopra do mar para a terra e, em sentido contrário, durante a noite. Em geral, esses ventos ocorrem em uma camada atmosférica pouco profunda, próximo à superfície. Em condições de topografia favorável, tais brisas podem associar-se a outros mecanismos de circulação, resultando em modificações substanciais do tempo.
   Pela manhã, a diferença de temperatura entre a terra e o mar é pequena, resultando num fluxo praticamente nulo. À medida que o calor se intensifica, as pressões sobre o solo começam a diminuir. Em conseqüência, a força do gradiente de pressão determina o escoamento das partículas de ar no sentido mar/continente. Por continuidade, fecha-se numa célula de circulação, caracterizando um escoamento contrário, no sentido continente/mar, em níveis pouco acima.
   À tarde, quando a terra se resfria e desaparece o contraste térmico, a brisa cessa. À noite, em razão da maior taxa de resfriamento continental em relação ao oceano, inicia-se a formação de um novo contraste de temperatura, agora permanecendo o mar mais aquecido que o continente. O mecanismo inverte-se, ocorrendo a formação de uma nova célula de circulação, em sentido oposto ao da primeira, em que o vento soprará do continente para o mar nos níveis inferiores e, ao contrário, nos superiores. Dependendo dos recortes da costa e da topografia, a brisa continental poderá ser mais ou menos intensa, ou mesmo imperceptível.Os jangadeiros aproveitam a brisa terrestre para se lançarem ao mar pela madrugada.

Ventos de montanha e de vale

   Durante as horas de incidência dos raios solares, as encostas de uma montanha e o ar em contato com elas se aquecem mais rapidamente que o ar localizado nas camadas mais afastadas da superfície. Esse aquecimento maior estabelece uma circulação análoga à brisa do mar. O ar desloca-se encosta acima, durante o dia e encosta abaixo, à noite. Caso o terreno possua configuração tal que existam vales convergentes, o ar poderá canalizar-se, resultando em ventos de vale, mais fortes que os de montanha. Como no caso das brisas do mar/continente, os ventos de montanha/vale estão sobrepostos ao regime geral dos ventos. Em dias de calmaria, os ventos de montanha e de vale podem-se manifestar pela presença de nuvens que se formam sobre as montanhas, durante o dia e se dissolvem à noite.

Vento ciclostrófico

   É formado pela combinação das forças de gradiente e centrífuga.Trata-se de um escoamento atmosférico curvo, em escala horizontal pequena, como nos tornados e redemoinhos, ou mesmo em grande escala, porém muito veloz, como nos furacões, característicos das latitudes tropicais, onde o efeito de Coriolis é desprezível. Os ventos são muito velozes, aumentando o efeito centrífugo.É importante observar que a rotação preferencial dos tornados e furacões, no HN, é anti-horária e, no HS, horária. Isso mostra que, embora Coriolis seja desprezível durante a fase madura do fenômeno, sua atuação, no início do processo, é relevante. No entanto, nos pequenos turbilhões que ocorrem na atmosfera, que é o nosso caso, não se percebe rotação preferencial dominante e, como tais, podem girar em qualquer sentido, independentemente do hemisfério. Claro está que, nesses fenômenos, Coriolis não desempenha qualquer papel.

Alexandre V. Malcher